Educação e Imaginário

Da criança mítica às imagens da infância

Descritivo O AUTOR

Alberto Filipe Ribeiro de Abreu Araújo é doutorado em Educação pela Universidade do  Minho e Professor Auxiliar com Agregação do Instituto de Educação e Psicologia da mesma Universidade, além de ser investigador do Centro de Investigação em Educação (CIED) do Instituto referido. Deste os anos noventa que frequenta os autores do Círculo de Eranos (Ascona - Suiça) e, muito particularmente, aqueles ligados à obra de Gilbert Durand, tais como Jean-Jacques Wunenburger, Jean-Pierre Sironneau, Philippe Walter, Andrés Ortiz-Osés, entre outros.
É autor e co-autor de numerosos trabalhos, em Portugal e no estrangeiro, dedicados ao tema do Imaginário e Imaginário Educational, de que se destacam O Tema do Homem Novo no Discurso Pedagógico de João de Barros (1997) e a coordenação, com Fernando Paulo Baptista, da obra Variações Sobre o Imaginário (2003).

Do Prefácio

O Imo da Imaginação e o Mimo da Educação
Carlos H. do C. Silva
(Universidade Católica Portuguesa - Lisboa)


"As crianças de todo o mundo são iguais na espontaneidade dos traços instintivos do homem".
(Almada Negreiros, «0 Desenho», in: O.C., V, p. 23)

Os átrios da imaginação... - essa que se supõe a esmo..., qual cosmos de fantasia, e, no entanto, logo se reconhece real e 'bem a sério' no lúdico das crianças no genesíaco de sempre outra infância... Porém, o que poderia parecer o quadro 'poético' de um certo devaneio (ou rêverie) no lugar comum do lirismo desse 'outro' que fomos, e queremos desse modo brincar a ser, torna-se esforçada e ponderadíssima tarefa de análise dessa enigmática 'faculdade' do imaginário.
Será já a perspectiva crítica, o reflexivo estudo empreendido - e aqui também ora presente - com o rigor da razão e o cuidado analítico, porém nem redutor, nem errático em direcção ao irracional, outrossim atento ao que bordeja o caminho do próprio pensar, - contingência e liberdade, desejo e destino... - nessas várias 'essências' que assim o parecem inspirar em passos, que ao andar precedem, neste "mistério de haver passos comigo" (como diz Pessoa em tom mediúnico de «A múmia»)...
0 presente estudo sensível à mitanálise tem, pois, a inovadora perspectiva ideologémica da Infância, ou seja dessa génese subtil dás próprias redes de possível compreensão a partir dos mitos e das imagens construtivas da criança. É neste polo arquetípico, e mais complexo da criança, qual novo centro da verdadeira "revolução copernicana" operada pela pedagogia moderna, e também neste estudo amplamente documentada pelos teóricos da Escola ou Educação infância, em fingir, em "fazer de conta" e tão completamente, como sabiamente "autopsicografou" Pessoa.. .
Não a criança como o mero antecedente de uma idade racional, mitificado como génese numa gnose que lhe inverta o sentido, pois é no calar das veras imagens infantis que se almeja a própria absolvição da dicotomia entre o pensar do imaginário e a imaginação do pensar, reconduzindo, - assim em pura duplicidade, - ao irredutível dessa diferença noutra infância de ser.
Donde que na Educação Nova, em diversos paradigmas de hermenêutica, longamente analisados no presente estudo, - criança centro de atenção e de irradiação (0. Decroly), ou qual instinto natural a comandar a escola (desde o «Émile» de Rousseau a Claparede e outros), trate-se da convivialidade que se sobrepõe àquele instinto (Dewey) como até à escola, numa descoberta criativa e espiritual (Maria Montessori), ou mesmo no contraste entre o desenvolvimento pessoal e social, mais espontâneo um (Ferrière, ainda Cousinet), mais funcional e orgânico outro (Freinet), - seja a criança aquela que obriga a uma desconstrução das "imagens" que se haviam e destas mesmas que ora se têm.