Do Prefácio
"Conheço o meu ilustre colega Fernando Almeida desde 1985. Honrou-me, então, fazendo-me a confiança de me procurar para comigo discutir um problema de vocação profissional. Bastante avançado no seu internato de cirurgia, sentia como uma grande perda o não ter optado pela especialidade de psiquiatria.
Nunca o proselitismo foi o meu forte no que respeita às opções profissionais. Se decidiu finalmente pela psiquiatria não me posso vangloriar de o ter influenciado. Mas em boa hora o fez: a psiquiatria ganhou um excelente profissional e, eu, um amigo incorrigível na sua lealdade.
Escolheu depois, para fazer a sua formação, o serviço que eu dirigia no Centro de Saúde Mental Ocidental do Porto. Foram anos de colaboração. Todos os que com ele trabalharam lhe reconheceram raras qualidades profissionais e humanas. Os concursos profissionais e provas académicas que até hoje fez confirmaram pleonasticamente as primeiras. As amizades que granjeou, as segundas.
Fernando Almeida desde cedo revelou que não se contentava apenas em preparar-se para ser um profissional competente. Sempre manifestou interesse pela investigação científica e carreira universitária. 0 livro que agora nos propõe é uma versão da sua dissertação de candidatura ao grau de Doutor apresentada ao instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar da Universidade do Porto.
A Medicina e a Psiquiatria Forense tiveram, desde cedo, um lugar privilegiado nos seus interesses. Não nos surpreendeu quando nos propôs como tema de dissertação o estudo "Homicidas em Portugal - contribuição para o seu estudo".
Leitura que recomendamos. Não apenas aos profissionais do direito, da medicina legal, à "classe política". Mas a todos os que têm interesse em conhecer melhor o estranho mas tão bizarramente "humano" problema do homicídio.
Além de podermos aceder a uma exaustiva revisão bibliográfica sobre o assunto, desde a neurobiologia à sociologia, à tipologia do homicídio, etc., Fernando Almeida estudou detalhadamente uma amostra de homicidas e das suas vítimas em Portugal. Com esta investigação ficamos a saber bem mais sobre eles. O que lhe permitiu confrontar-nos com mais de três dezenas de recomendações que a todos dizem respeito. E que são estimulantes para futuras investigações, para os serviços de dados do Ministério da Justiça, para se tomarem medidas restritivas na venda de armas de fogo, de álcool, e outros euforizantes, para a prática médico-legal, para a jurisprudência, para o tipo de amnistias a conceder, e até para qualquer cidadão, vítima potencial de um homicida, ser informado sobre o que deve saber em certas situações de risco! Situações para as quais pode não haver retorno..."
Moledo do Minho, 24 de Janeiro de 1999
Eurico Figueiredo